Avançar para o conteúdo principal

Alerta vermelho em Eindhoven

  A 13 de maio de 2013 Philip Cocu foi oficialmente apresentado como novo treinador do PSV, principal emblema de Eindhoven, Holanda. Diga-se que seria uma questão de tempo, tendo já exercido funções como interino e apresentando-se como adjunto desde 2010/2011. Uma espécie de sonho e fantasia para qualquer adepto, não tivesse o antigo internacional holandês sido o melhor médio que passou pelo clube na última década. Aliás, estou a ser simpático. Posso dizer também que marcou uma geração nos Boeren, mas nunca sem referir que a partilhou com peças e pilares como van Bommel, Dennis Rommedahl, Mateja Kežman e o nosso careca preferido, Arjen Robben¹. Enfim, a lista é extensa mas a ideia está presente. Então foi como um sonho para qualquer adepto do Philips Sport Vereniging. Ou pelo menos para a esmagadora maioria. Iria suceder a Advocaat² um carismático e idolatrado homem que já encantou na Philips.

¹ Importante referir que a lista é muito mais extensa. Para não ser praticamente infindável, a lista foi resumida para apenas a época de 2003/2004, primeira de Cocu após regressar ao PSV.

² Convém referir que Advocaat não foi despedido. Após terminar a Eredivisie na segunda posição e, por conseguinte, perder a Taça Holanda frente ao AZ - ironicamente a equipa que treina desde outubro, voltando atrás na sua palavra - comunicou de forma oficial que se iria reformar, deixando o futebol duma forma definitiva. Mentiu ou, em termos mais leves, reconsiderou. Voltou ao Alkmaar 3 anos depois de ter abandonado o clube. Na altura foi a seleção russa que o chamou.

  As reações foram sobretudo positivas. Depois dum segundo lugar no campeonato e duma taça perdida de forma infantil estava na hora de voltar aos títulos. Porque não fazê-lo com alguém que sabe o que é isso? Alguém que sabia levantá-los, beijá-los e exibi-los às massas que deliravam e cantavam repetidamente pelo seu nome, entoando uma emocionante melodia em Barcelona, mas sobretudo em Eindhoven. O senhor que fez cento e um jogos pela laranja mecânica³ e que arrecadou dez títulos oficiais como jogador, número até escasso para o modelo de jogador que representava.

³ Apesar desse invejável registo, Philip Cocu marcou apenas 10 golos. Ao mesmo tempo isto reforçava a ideia que não era um jogador que marcasse muitos golos, mas sim que os prevenia. E, muitas vezes, também os criava. Mas raramente finalizava, apesar do seu mágico pé esquerdo.

  Os primeiros confrontos obrigaram a formação de Cocu a dar tudo e mais alguma coisa, o adversário era o temível AC Milan. Jogava-se a Liga dos Campeões e um 3-0 em San Siro estragou o esforço e invalidou o 1-1 na Philips Arena. Tudo dentro dos conformes no que toca às primeiras três jornadas do campeonato. O mesmo número de vitórias. O brilho ficou num plano secundário, valeu-lhes a eficácia e a irreverência de alguns jovens, nomeadamente Bakkali e Depay. Este primeiro é um dos mais novos de sempre a atuar pela equipa A do PSV, com 17 anos. É extremo-direito, mas atua com o mesmo conforto no centro. Nasceu em 1996. É um miúdo que veste a camisola, já calça as chuteiras e alinha num histórico do futebol europeu. Depay não é muito mais velho, tem 19. Podia continuar a lenga-lenga, mas basta referir apenas que a média de idades do clube é de 21,97. Penso que posso terminar este parágrafo desta forma porque o indicador diz tudo. Comprova a irreverência e a rebeldia. Infelizmente, carecem de experiência.

  A crise começou a ganhar nome e relevância nas três jornadas seguintes. Um empate no reduto do Heracles Almelo não é ideal, mas tolera-se. Porque um escorregão ocasional é perfeitamente normal desde que não se torne hábito. Ora, Philip Cocu e os seus jogadores deixaram isso acontecer. As soluções encontraram-se todas, sem excepção, no banco de suplentes. E a verdade é que não são apenas as exibições que deixam a desejar: são também, e principalmente, as opções do antigo médio do Barcelona. É um pensamento que partilho, não é universal. Mas tem a sua lógica. O técnico abdica da experiência e aposta na juventude, mas será essa uma solução viável a curto-prazo?

  Não! Ainda na época passada a formação de Dick Advocaat tinha um plantel com uma média de idade de 23,50. Se isso fez com que a equipa ganhasse títulos? Também não. Mas há que comparar momentos. Pela jornada 16, na época passada, o PSV liderava a Eredivisie. Esta época está em 10º com uns miseráveis 20 pontos, menos 16 do que na altura. São contas fáceis de fazer. Este PSV é mais fraco, mais débil e mais inexperiente. A culpa tem que ser empregue a Philip Cocu e porventura a eventuais políticas de dirigismo que imponha restrições na média de idade dos jogadores utilizados. Porque, apesar dessa mesma ser extremamente baixa, há jogadores capazes de guiar a equipa durante os períodos mais complicados. Schaars até tem sido titular... o mesmo não se pode dizer de Ji-Sung Park, muito menos de Ola Toivonen. O sueco normalmente é utilizado como um desbloqueador, entrando na 2ª parte (já o fez em 7 diferentes ocasiões). E, na realidade, Cocu deveria fazê-lo com Locadia, Jozefsson ou o menino Bakkali. A média de idades destes jogadores é de 19,67.

¹  Com ou sem a experiência necessária, falta organização, rigor e disciplina. Muitas vezes os miúdos podem ferver desnecessariamente. Cocu também tem uma difícil missão nesse e noutros campos que não o da bola no pé. Porque formar jogadores e homens são duas coisas completamente distintas.

  E, continuando a sequência anterior, pode-se concluir que a campanha na atual Eredivisie tem sido pior que má no que toca aos altos padrões dos Boeren. Empates na 5ª e 6ª jornada acabaram por colocar a Philips Arena em estado de calamidade como se previa. Porém, uma vitória por 4-0 sobre um dos maiores rivais, o Ajax de Amesterdão, reestabeleceu a calma e até os sorrisos de volta aos seus proprietários. Excepto Cocu que continuou apreensivo, continuava a saber que algo não estava bem. E adivinhem, Schaars, Toivonen e Park foram titulares nessa partida...

  Nem tudo foi um mar de rosas. No fim-de-semana seguiu-se uma derrota no terreno do AZ treinado por Verbeek. Mais tarde seria substituído por Dick Advocaat, já o escrevi anteriormente. E a equipa entrou num período negro depois duma vitória tangencial sobre o RKC. Essa vitória aconteceu no dia 6 de outubro. Desde esse dia, e até agora, o PSV não voltou a vencer em jogos a contar para o campeonato. Já se passaram 7 jogos e 2 meses, entre eles uma escandalosa - e, acreditem, estou a ser extremamente simpático - derrota frente ao Vitesse. Os famosos 2x6 na Philips Arena. Choveram lenços brancos e críticas ao treinador, o principal acusado de culpado. Park e Toivonen começaram esse encontro no banco. Na passada quinta-feira, frente ao Chornomorets Odessa, nenhum dos 3 elementos em estudo foram titulares. Schaars nem foi convocado. O resultado? Mais uma derrota caseira.

  Isto tudo para clarificar uma temática frequentemente discutida na comunidade holandesa futebolística. A irreverência e juventude são bem-vindas se alimentadas com calma, persistência e se não em excesso. O caso do Borussia Dortmund é, por exemplo, um sucesso. O projeto do PSV, se é que o há, está em vias de se tornar um falhanço e um verdadeiro flop de Cocu. Os próximos 2 encontros na Eredivisie serão fundamentais para a época do PSV: Cocu pode, com alguma facilidade, nem chegar a janeiro.

Comentários

  1. Tipo, se lembrarmos bem, o PSV foi semifinalista há quase dez anos atrás e hoje está nessa situação, como o mundo do futebol dá voltas, bela crônica.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Popular Posts

Dia perfeito em Moscovo

     Era considerável a expectativa sobre a prestação da Rússia no arranque do Mundial 2018, em solo caseiro. A notória falta de identidade, uma percentagem vitoriosa de apenas 25% com Stanislav Cherchesov e fases finais de grandes competições tipicamente fracas colocava muitos pontos de interrogação sobre a anfitriã que, pelo menos durante os próximos dias, acaba por apaziguar a crítica. De notar que a Arábia Saudita pouco se opôs, parecendo até contrariados em campo, mas os momentos de brilhantismo russo  foram absolutamente fundamentais para levar uma expectativa alta para os próximos dias de Mundial.      Como é típico no arranque de qualquer competição de renome, os nervos e o respeito mútuo fazem com que os encontros inaugurais acabem por ser atípicos no ponto de vista do entusiasmo e dos grandes momentos, com equipas fechadas que procuram, sobretudo, estudar-se e prevenir erros fatais. E embora pudesse ser o caso na tarde de hoje, a (pouca) resistência que a Arábia Sau

Da Rússia, com amor

     A expectativa e a ansiedade terminam. O estômago às voltas transforma-se em alegria ou desespero. A bola finalmente rola. Arranca hoje o FIFA World Cup 2018 na Rússia, com trinta e duas seleções a lutar pelos 6 quilogramas de ouro e o título de melhor do mundo. Com os habituais candidatos e as sempre entusiasmantes surpresas a Alemanha defende o título numa competição onde, como há muito já não acontecia, é extremamente complicado prever um vencedor . Entre 64 jogos e mais de um mês, a imprevisibilidade é maior do que nunca.      Rússia e Arábia Saudita abrem as hostilidades num grupo também imprevisível, onde o impacto de Mohammed Salah pode ser um fator absolutamente determinante. A Crónica Futebolística segue agora com alguns dos pontos mais dignos de reflexão e análise , tendo em vista o Mundial 2018 . Fique atento  à página do facebook  para mais artigos de natureza semelhante durante os próximos dias. FATOR CASA      Não é certamente surpresa se lhe dis

Entrevista a Issey Nakajima-Farran

  Issey Nakajima-Farran is a 30 year old soccer player, artist and citizen of the world. He has played in 4 continents in his 12 professional years, After he parted ways with Impact Montreal, he's focusing in his art and shared with Crónica Futebolística his amazing life story. I would like to personally thank Issey for his sympathy and avaliability.      Before reading this interview, you can follow Issey in his social media: Instagram Twitter http://isseyart.com/  - He's avaliable to sign a message for who's interested in his prints.   Issey Nakajima-Farran é um futebolista, artista e cidadão do mundo de 30 anos. Já jogou em 4 continentes durante os seus 12 anos como profissional. Após rescindir com o Impact Monteal, foca-se agora na sua arte e partilhou com a Crónica Futebolística a sua magnífica história de vida. Gostaria de agradecer ao Issey pela simpatia e disponibilidade.   Antes de ler a entrevista, pode seguir Issey nas redes sociais: