Avançar para o conteúdo principal

O fim de mais um ciclo

  13 de fevereiro de 2012: Sá Pinto assina com o Sporting.
  8 de março de 2012: Sporting no céu, vencendo o Man. City em Lisboa. Sá Pinto é herói leonino.
  4 de outubro de 2012: Em véspera de feriado, Sporting é humilhado na Hungria e Sá Pinto é despedido.

  No Sporting 1 dia vale por 1 mês, os ciclos terminam mais regularmente e isso mesmo já se tornou um processo previsível. Seja em treinadores, quer em dirigentes. José Eduardo Bettencourt que o diga. No clube leonino rapidamente se passa de besta a bestial, mas mais rapidamente se compreende o processo inverso. Depois dum período vitorioso que passou da dezena de jogos, o na altura treinador Domingos Paciência desesperou com a falta de carburação da equipa. Talvez tivesse sido o espírito festivo a causar isto, quem sabe... verdade foi que a máquina não carburou de final de novembro a meados de janeiro. Derrotas frente a Vaslui e Gil Vicente (já em fevereiro) justificam claramente a minha afirmação anterior.

  Domingos Paciência foi um herói em Braga, levando o clube a alguns dos melhores momentos da sua já longa história quase centenária. Junto com a gestão exemplar de António Salvador (para muitos o impulsionador deste Braga que começou a emergir no topo nestes últimos anos) o antigo avançado do FC Porto conseguiu algo inédito no clube: lutar pelo título. Fê-lo com 71 pontos em 30 jogos, menos 5 que o campeão SL Benfica. Fez-se a festa na Luz, enquanto que certamente desesperaram os bracarenses na Choupana. Curiosamente os 71 surpreendentes pontos que os minhotos conquistaram nesse campeonato eram suficientes para vencer o campeonato na época 2008/2009, onde o Porto foi campeão. Foi, de resto, a penúltima época de Jesualdo.

  Na época seguinte (2010/2011) só um Porto imparável impediu o Braga de conquistar o segundo troféu europeu da sua história (se contarmos com o já extinta Taça Intertoto). A vitória azul e branca em Dublin fez cair por terra as ambições dos vermelhos, mas abriu muitas portas a Domingos pela prestação incrível nos dois anos que treinou o SC Braga. Estranho se assim não fosse, de facto. O Sporting foi o clube escolhido pelo técnico, mas o mesmo tempo sabia que os tempos não eram fáceis. A paciência começava a esgotar-se, idem a tolerância para constantes despedimentos de treinadores. Paulo Bento e Carvalhal que o digam. Toda a gente depositava confiança nesta equipa do Sporting. Novo treinador, plantel renovado. A verdade é que Domingos falhou como muitos outros. Que influência pode ter dito aqui a tão criticada direção de Godinho Lopes?

  Sá Pinto foi o escolhido para a suceder Domingos. Também ele um ex-jogador com grande marca no futebol português e ídolo para muitos sportinguistas. Mas o problema estava à vista! Sá Pinto pertencia a um grupo de ex-jogadores com grande experiência, mas sem credenciais para treinador principal dum clube que aponta ao título em todos os princípios de época, apesar de tudo. A única experiência como treinador do antigo internacional português foi de ajunto do Leiria. Digam-me vocês então se a escolha de Godinho Lopes e da direção não foi absurda... porque motivar os jogadores não basta. Não vale de nada motivar sem coordenar. Não vale de nada encorajar sem explicar como fazer. É um erro comum o de algumas pessoas pensarem que um grande jogador dará um grande treinador. Mentira. Provas estão à vista de todos.
  A expectativa era, porém, grande. A massa associativa do Sporting estava receptiva a Sá Pinto e diziam eles que iria honrar a cadeira de sonho. Até o pode ter feito, mas faltaram os conhecimentos mais importantes dum treinador, os táticos. Quem viu o Sporting neste ciclo consegue perceber do que falo. Falta de fio de jogo, de organização tática e de discernimento para atuar com cabeça fria. Porque a equipa era desenhada à imagem do treinador: trabalhava de cabeça quente sem racionar corretamente. Entretanto chegou o 1º desafio, esse mesmo foi na Polónia. O Legia foi um adversário complicado, num clima e ambiente adverso. Seguia-se a demanda pelo 3º lugar e tentativa de brilharete na Europa.

  Uma vitória por 5-0 frente ao Vitória SC em Alvalade encheu os adeptos de esperança. Falsa, contudo. O talento individual de jogadores desequilibradores como Capel levou a melhor, tentando disfarçar o fraco desenho tático de Sá Pinto, coisa que se manteve até à derrota frente ao Videoton. Pouca organização, pressão deficiente olhando para os homens capazes de o fazer, falta de um 11 base definido e claramente a falta de conhecimentos do treinador foram os fatores principais para a rescisão do mesmo. Mesmo com isso, algumas vitórias foram sendo alcançadas (destaque-se a passagem do Sporting em Manchester). 

  O facto de ter falhado o 3º lugar não deu a Sá Pinto grande margem de manobra e é óbvio que ninguém aprende em meses. Os defeitos do Sporting mantiveram-se durante o restante tempo. A nova época veio trazer novas esperanças para os adeptos, mas passada essa mesma... muita desilusão. Apesar de não ser novidade o clube lisboeta arrancar (muito) mal as recentes épocas, a corda rebentou. E desta vez depois dum jogo na Europa, onde se costuma entrar o Sporting a um nível alto comparado com as competições internas. Não basta motivar uma equipa para ser um grande treinador. 

Amanhã haverá um teste de jogo para Oceano, o substituto de Ricardo. Terminou um ciclo, arranca outro. Embora ainda indefinido, começará com um dos testes mais difíceis possíveis. 

Comentários

Popular Posts

Dia perfeito em Moscovo

     Era considerável a expectativa sobre a prestação da Rússia no arranque do Mundial 2018, em solo caseiro. A notória falta de identidade, uma percentagem vitoriosa de apenas 25% com Stanislav Cherchesov e fases finais de grandes competições tipicamente fracas colocava muitos pontos de interrogação sobre a anfitriã que, pelo menos durante os próximos dias, acaba por apaziguar a crítica. De notar que a Arábia Saudita pouco se opôs, parecendo até contrariados em campo, mas os momentos de brilhantismo russo  foram absolutamente fundamentais para levar uma expectativa alta para os próximos dias de Mundial.      Como é típico no arranque de qualquer competição de renome, os nervos e o respeito mútuo fazem com que os encontros inaugurais acabem por ser atípicos no ponto de vista do entusiasmo e dos grandes momentos, com equipas fechadas que procuram, sobretudo, estudar-se e prevenir erros fatais. E embora pudesse ser o caso na tarde de hoje, a (pouca) resistência que a Arábia Sau

Da Rússia, com amor

     A expectativa e a ansiedade terminam. O estômago às voltas transforma-se em alegria ou desespero. A bola finalmente rola. Arranca hoje o FIFA World Cup 2018 na Rússia, com trinta e duas seleções a lutar pelos 6 quilogramas de ouro e o título de melhor do mundo. Com os habituais candidatos e as sempre entusiasmantes surpresas a Alemanha defende o título numa competição onde, como há muito já não acontecia, é extremamente complicado prever um vencedor . Entre 64 jogos e mais de um mês, a imprevisibilidade é maior do que nunca.      Rússia e Arábia Saudita abrem as hostilidades num grupo também imprevisível, onde o impacto de Mohammed Salah pode ser um fator absolutamente determinante. A Crónica Futebolística segue agora com alguns dos pontos mais dignos de reflexão e análise , tendo em vista o Mundial 2018 . Fique atento  à página do facebook  para mais artigos de natureza semelhante durante os próximos dias. FATOR CASA      Não é certamente surpresa se lhe dis

Entrevista a Issey Nakajima-Farran

  Issey Nakajima-Farran is a 30 year old soccer player, artist and citizen of the world. He has played in 4 continents in his 12 professional years, After he parted ways with Impact Montreal, he's focusing in his art and shared with Crónica Futebolística his amazing life story. I would like to personally thank Issey for his sympathy and avaliability.      Before reading this interview, you can follow Issey in his social media: Instagram Twitter http://isseyart.com/  - He's avaliable to sign a message for who's interested in his prints.   Issey Nakajima-Farran é um futebolista, artista e cidadão do mundo de 30 anos. Já jogou em 4 continentes durante os seus 12 anos como profissional. Após rescindir com o Impact Monteal, foca-se agora na sua arte e partilhou com a Crónica Futebolística a sua magnífica história de vida. Gostaria de agradecer ao Issey pela simpatia e disponibilidade.   Antes de ler a entrevista, pode seguir Issey nas redes sociais: