Sabe-se que a meio da semana os dois adversários de hoje tiveram momentos completamente distintos no que toca a compromissos europeus. Começando pelas viagens. O Porto ficou-se pelo Dragão, enquanto que o Sporting viajou até à Hungria para defrontar o Videoton de Paulo Sousa. Os desfechos dos jogos em questão também foram diferentes, não fosse o Sporting despedir Sá Pinto se este tivesse vencido em terrenos forasteiros. Já os dragões conseguiram vencer o Paris Saint-Germain com uma exibição de gala, rara nos tempos de Vítor Pereira. Agressividade, discernimento, objetividade e criatividade caracterizaram os 90 minutos portista em relvado português. As duas equipas em momentos distintos encontram-se hoje. É a guerra do curado (depois de falhar a vitória frente ao Rio Ave) e do ferido. Na teoria já se sabe como seria o desfecho, porém existe quem diz que os clássicos são jogos à parte, que ignoram completamente a corrente de jogos recentes. Noutra palavra, imprevisíveis.
A saída de Ricardo Sá Pinto vinha sendo anunciada, tanto que "previsível" e "natural" foram palavras ditas aquando da sua saída, após a derrota pesada face ao Videoton. Impossível não prever este abandono da cadeira de sonho, a não ser que se pensasse mais à frente. As repercussões de despedir um treinador poucos dias antes dum jogo frente a um dos maiores rivais. O treinador interino, Oceano Cruz, teve poucas sessões de treino para organizar a equipa à sua mentalidade. Será suficiente para colocar a semente de cultura tática que terá que se desenvolver antes do apito inicial de Jorge Sousa?
O principal problema de Sá Pinto era a (falta de) experiência que ele trazia. Esta foi a sua primeira aventura como treinador principal e terminou desta forma amarga, vendo o que ele mesmo conseguiu na época passada, na Liga Europa (mesmo assim sem nunca dar nas vistas por uma qualidade de jogo soberba). Faltava fio de jogo, conhecimento tático e... fazer com que as qualidades de cada jogador fossem bem espremidas. Oceano tem feito um excelente trabalho na equipa B, mas convém referir que é uma equipa a atuar num escalão inferior. Há (muitas) menos exigências táticas.
Vítor Pereira, na antevisão para este clássico do futebol português, revelou que quando a sua equipa "é agressiva e imprime um ritmo forte" os seus adversários têm bastantes dificuldades em recompor-se. Nada de novo aqui, mas é importante para a sua equipa que o líder tenha noção disto. Frente a uma equipa do Sporting sem rotinas com este interino uma entrada de rompante com transições rápidas e mudanças de ritmo com Atsu/Varela ou James serão preponderantes para começar bem e, quem sabe, assustar os leões. Caso a equipa da casa consiga imprimir a teoria do treinador será complicadíssimo para o Sporting sair a jogar com clarividência. Daí a necessidade de Capel e Carrillo, desequilibradores nos flancos. Outra arma portista é a defesa alta, um método arriscado, mas eficiente para parar contra-ataques como mostrou o embate frente ao Vitória SC. O miolo com Fernando, Lucho e Moutinho será fundamental para ganhar bolas e lançar ataques mortíferos, pois claro. Moutinho também é centro das atenções... vá-se lá saber porquê.
Na primeira vez em que estes treinadores se encontram a expectativa é muita. Dum lado o já experiente Vítor Pereira que cumpre a sua segunda época como técnico principal do FC Porto, esta preparada devidamente, depois de ser o treinador de recurso depois da saída do prodígio André Villas-Boas. Oceano também entrou em condições caóticas para o Sporting, mas muito mais mesmo. Uma coisa é entrar no final da pré-época, outra é entrar numa altura corrente da época depois duma sequência de maus resultados. Tarefa dura, mesmo à medida do antigo internacional português. Talvez árdua demais. Estarão os jogadores motivados, dada a vontade de dar um pontapé na crise, de impressionar?
Os factos estão expostos. O Porto está numa melhor forma, tem jogadores mais motivados, joga em sua casa e tem certamente uma grande vantagem à partida para esta partida. Mas não subestimem o poder dum clássico português. Imprevisível como tudo, lá está. Neste dia de clássicos, Portugal vai parar para ver qual será a reação leonina, com os benfiquistas sentados no sofá com o dever de missão cumprida. Joga-se a liderança dum lado, a cura para o orgulho ferido noutro.
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