Avançar para o conteúdo principal

Bélgica: a luxúria subentendida

  Como se pode verificar em vários locais a Bélgica é um dos países com maior índice de desenvolvimento do mundo, no top 20 mundial e a rondar o top 10 europeu de acordo com a última lista. É um país repleto de luxúria e boas condições de vida, generalizando, então. Um país subtil e nobre com o seu nome oficial a ser Reino da Bélgica. Nada que se possa dizer que é irrelevante vendo o passado rico em história deste território outrora povoado por tribos célticas e germânicas. Também se pode referir que é um país onde há uma taxa de alfabetização na casa dos 99%. Um país requintado... mas e o futebol?

  Desde o Mundial de 2002, marcado por arbitragens ultrajantes e vergonhosas, que os belgas não marcam presença numa grande competição de seleções. Na altura os olhos mais interessados recaiam sobre Van Buyten e Bart Goor (com este último ainda no ativo com 39 anos). Os tempos mudam e com ele vêm alterações promíscuas, ou seja, que fazem toda a gente ficar confusa. 

  A atual seleção belga tem, a meu ver, um dos melhores onzes do panorama internacional. Estará à vista uma nova qualificação para um Mundial, 12 anos depois? Faz-se a questão e brinca-se com ela, respondendo de várias formas. Na teoria, sim, os belgas têm uma qualidade transcendente, com jogadores preponderantes em cada um dos sectores. Kompany, Witsel e Hazard... só para terem uma ideia. Tal como acontece com o grupo de Paulo Bento (na generalidade das convocatórias) há uma grande parte dos jogadores que atuam fora de portas. Neste caso particular a Inglaterra é o principal destino com 7 atletas.

  O treinador tem um percurso modesto neste mesmo cargo. De nome Marc Wilmots, o belga pertence também à nova geração de treinadores que pisaram os relvados com as chuteiras até aos primeiros anos do novo milénio. Neste caso o antigo 10 como jogadores pendurou-as depois de sair do Schalke, clube em que fez algo inédito. Abandonou o clube como jogador, assumindo o papel de líder no banco na seguinte época de 2003/2004. Apesar de ocupar o cargo de treinador, as letras pequenas dizem interino. Surpreendentemente já está nessa posição há quatro meses. Como aconteceu com Löw, exemplificando, passou de adjunto a treinador principal. Pode-se chamar esforço, trabalho árduo ou persistência. Uma coisa é certa: o povo acha-o carismático.

  O atual plantel belga é absolutamente de topo. Além de apostas secundárias bastante válidas, o 11 inicial base é constituído única e exclusivamente por jogadores com "nome já feito". Veja-se por exemplo a contenda frente ao País de Gales, onde o resultado foi favorável aos belgas. Atuaram num 4-3-3 com um meio-campo em linha, estando Vertonghen encarregue das funções de sair a jogar e fazer de primeira linha de passe. Pode-se ver abaixo o sistema tático montado por Wilmots nessa vitória na semana passada.

  Este é o onze que venceu o País de Gales, como já referi. À primeira vista é arrebatador. Contém nomes como Kompany, Vermaelen, Vertonghen, Fellaini, Witsel e Lukaku. Ora, diria eu que uma hipotética qualificação para a prova do Brasil é mandatária. A grande incógnita neste 11 é Gillet, como podem calcular. É o orgulho da casa, o único jogador a jogar na Bélgica nesta conjunto de elite apresentado acima. É médio ala por natureza, adaptado regularmente a defesa com muito sucesso. Cumpre, sobe sem correr riscos em demasia, tem um bom jogo para o interior e principalmente não tem medo de estar sobre pressão... não fosse ele o jogador que cobrou o penalti aos 93 minutos que deu o empate frente ao Brugge na Liga Belga, jogo fundamental para a conquista do título do Anderlecht.

  A ocupar uma posição no meio do miolo, Witsel era aquilo que fazia no Benfica de Jesus. Box-to-box, claro está. É ele quem muitas vezes transporta a bola por zonas interiores até à área onde Lukaku tem que arranjar espaço para finalizar. Provavelmente estava num dia não, já que Wilmots optou por Mirallas na etapa complementar. É um jovem ainda com muita margem de progressão, como se sabe. E daqui a uns anos será um perigo ainda maior, uma referência nesta esquadra. 

  A Bélgica vive do equilíbrio neste momento. Tem um sector defensivo coeso que não se aventura em demasia no processo ofensivo (com a excepção de Vertonghen que a par de David Luiz e Hummels é um dos melhores centrais do mundo a sair a jogar), um miolo formado por médios de grande qualidade cumprindo em ambos os processos - e sobretudo Fellaini transmite segurança ao sector defensivo - e um sector mais ofensivo com três dores de cabeça. O possante Lukaku, Mertens e o conhecido Eden Hazard, a pulga do futebol inglês. Um jogador imparável assim que embalado, como já se viu no Chelsea. Tem potencial para vir a constar nas listas de melhores do planeta.

  Doze anos depois, terá a Bélgica de Wilmots passaporte para o Mundial do Brasil? Qualidade para isso têm.

Comentários

Popular Posts

Dia perfeito em Moscovo

     Era considerável a expectativa sobre a prestação da Rússia no arranque do Mundial 2018, em solo caseiro. A notória falta de identidade, uma percentagem vitoriosa de apenas 25% com Stanislav Cherchesov e fases finais de grandes competições tipicamente fracas colocava muitos pontos de interrogação sobre a anfitriã que, pelo menos durante os próximos dias, acaba por apaziguar a crítica. De notar que a Arábia Saudita pouco se opôs, parecendo até contrariados em campo, mas os momentos de brilhantismo russo  foram absolutamente fundamentais para levar uma expectativa alta para os próximos dias de Mundial.      Como é típico no arranque de qualquer competição de renome, os nervos e o respeito mútuo fazem com que os encontros inaugurais acabem por ser atípicos no ponto de vista do entusiasmo e dos grandes momentos, com equipas fechadas que procuram, sobretudo, estudar-se e prevenir erros fatais. E embora pudesse ser o caso na tarde de hoje, a (pouca) resistência que a Arábia Sau

Da Rússia, com amor

     A expectativa e a ansiedade terminam. O estômago às voltas transforma-se em alegria ou desespero. A bola finalmente rola. Arranca hoje o FIFA World Cup 2018 na Rússia, com trinta e duas seleções a lutar pelos 6 quilogramas de ouro e o título de melhor do mundo. Com os habituais candidatos e as sempre entusiasmantes surpresas a Alemanha defende o título numa competição onde, como há muito já não acontecia, é extremamente complicado prever um vencedor . Entre 64 jogos e mais de um mês, a imprevisibilidade é maior do que nunca.      Rússia e Arábia Saudita abrem as hostilidades num grupo também imprevisível, onde o impacto de Mohammed Salah pode ser um fator absolutamente determinante. A Crónica Futebolística segue agora com alguns dos pontos mais dignos de reflexão e análise , tendo em vista o Mundial 2018 . Fique atento  à página do facebook  para mais artigos de natureza semelhante durante os próximos dias. FATOR CASA      Não é certamente surpresa se lhe dis

Entrevista a Issey Nakajima-Farran

  Issey Nakajima-Farran is a 30 year old soccer player, artist and citizen of the world. He has played in 4 continents in his 12 professional years, After he parted ways with Impact Montreal, he's focusing in his art and shared with Crónica Futebolística his amazing life story. I would like to personally thank Issey for his sympathy and avaliability.      Before reading this interview, you can follow Issey in his social media: Instagram Twitter http://isseyart.com/  - He's avaliable to sign a message for who's interested in his prints.   Issey Nakajima-Farran é um futebolista, artista e cidadão do mundo de 30 anos. Já jogou em 4 continentes durante os seus 12 anos como profissional. Após rescindir com o Impact Monteal, foca-se agora na sua arte e partilhou com a Crónica Futebolística a sua magnífica história de vida. Gostaria de agradecer ao Issey pela simpatia e disponibilidade.   Antes de ler a entrevista, pode seguir Issey nas redes sociais: